“(..)Quando alguém mergulha nas próprias recordações,abre uma porta para o passado;a estrada lá dentro tem muitas ramificações e a cada vez o trajeto é diferente.”
Olá pessoal,
Hoje apresento mais uma resenha: As Boas Mulheres da China.
No final dos anos 70, após a morte de Mao
Tse-Tung, surge o processo de abertura econômica na China feito por Deng
XiaoPing que apesar de forma lenta,
trouxe sopros de liberdade para as
imprensas chinesas.
Através desa possibilidade, Xinran ousadamente
trabalhou com questões pessoais da vida das mulheres em seu programa “Palavras
na Brisa Noturna”, surgindo temas como vida íntima, violência familiar,
opressão e homossexualismo.
Em
uma das entrevistas,uma universitária chamada Jin Shuai pede para responder
três perguntas quando estivesse no ar: Qual é a filosofia das mulheres?O que é felicidade
para uma mulher?O que faz uma boa mulher?
Impulsionada
pelas perguntas e inspirada pelo Velho Chan, começa a investigar sobre a vida
cotidiana das mulheres chinesas para compreende-lás e responder as perguntas.
Entretanto a cada relato triste que recebia por cartas, telefone ou fazia entrevistas,
percebia que jamais se esqueceria de todas aquelas histórias. Depois de um
tempo, decidiu-se mudar de país para respirar novos ares.
Após
quatro dias em Londres, ao resolver um pedido de ajuda de uma chinesa cuja mãe
não falava sobre relacionamento e ouvir uma londrina dizer que não conhecia
sobre o universo chinês, Xinran resolve escrever sobre os relatos que tinha em
mãos.
Surge
o livro “As boas Mulheres da China” abrindo espaço para os ocidentais compreenderem
através de depoimentos adquiridos ao longo da carreira sobre a condição feminina,
as situações e cicatrizes causadas antes e depois pela Revolução Cultural de
Mao Tse-Tung na vida das
chinesas e a sua imagem na China Atual.
Cada
capítulo relata uma história diferente, a partir do ponto de vista da autora. Algumas
comovem como a única experiência de prazer sensual de Hongxue que veio de uma mosca e Jingyi
que esperou seu amor por 45 anos e o encontra casado com outra pessoa. Outras
perturbadoras como as mulheres que pelo Partido foram dadas em casamento, separadas
dos seus amores, abusadas, humilhadas e até perdendo a sanidade. Outras trazem
reflexões pela analogia que as próprias chinesas fazem delas mesmas, como vemos
pela Zhou Ting á empresária famosa que foi traída,difamada e abandonada:
“Emocionalmente os homens nunca podem ser como as mulheres. Eles são como as montanhas: só conhecem o chão sob os seus pés e as árvores nas suas encostas. Mas as mulheres são como água. (...)porque a água é a fonte da vida e se adapta ao ambiente. Assim como as mulheres, a água dá de si mesma em todo o lugar aonde vai para nutrir a vida."
(Xinran,2002,páginas 257 e 258)
As
esperanças, amor próprio e a forma de sentir o amor foram perdidos para sempre.
Como a própria Xinran diz: ”Se pudéssemos ter acesso aos pesadelos delas,
passaríamos dez ou vinte anos ouvindo o mesmo tipo de história.”
Apesar
de apresentar uma leitura rápida, demora-se pelos relatos comoventes dessas mulheres.
No final do livro o leitor sente em cada página e palavras a sensação de inconformismo
e tristeza ao saber que a menina nascida na Revolução Cultural era cercada de ignorância,
maldade e perversidade sendo como culpados seus professores, amigos, homens e
adolescentes do exército vermelho e até pais e irmãos que aproveitavam de sua superioridade
hierárquica perdendo o controle e agindo da pior forma possível, transformando
a vida de muitas garotas e mulheres em um grande pesadelo. Mas o pior é saber
que ainda não só na China, mas em vários outros países pelo mundo que o terror termina
para umas e começam para outras.
A radialista,
jornalista e escritora Xinran nasceu na capital da china em 1958. Durante sua
carreira no seu programa “Palavras na Brisa Noturna”, colecionou diversas
historias de diferentes mulheres que entrevistou até 1997, quando se mudou para
Londres sozinha e depois voltou para buscar seu filho Pan Pan.
Além
do livro “As boas Mulheres da China”, é autora do livro Sky Burial (Enterro Celestial no
Brasil), retratando a vida da chinesa que busca o marido desaparecido no Tibete; "O que os Chineses não
Comem”,"As Filhas Sem Nome", "Mensagem De Uma Mãe Chinesa Desconhecida"
e "Testemunhas da China".
Atualmente
é colunista do jornal The Guardian e professora na School of Oriental e African
Studies da Universidade de
Londres. Em 2004, fundou uma Ong chamada The Mother´s Bridge of Love com o
objetivo de auxiliar órfãos chineses e estreitar a compreensão entre Ocidente e
China.
Super recomendo ler!